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sábado, 29 de maio de 2010

O NAVIO






O NAVIO


O dia amanheceu, uma manhã suave se apresenta qual véu embalado pela sabedoria do vento, é verão, um doce verão, no Porto dos Milagres, um navio está ancorado com muitos outros à sua volta, é esse o dia da sua inauguração, marinheiros trabalham, conversam e trabalham, se ouvem indagações, premunições, profecias, em fim, é hoje mesmo? O Navio será inaugurado hoje? Qual o seu destino? Todos estão muito curiosos, e esperam ansiosamente pelo sublime momento da inauguração, alguns se arriscam a profetizar : “esse Navio será um grande navegador” , “navegará sobre rios e mares”, “A nobreza se abrigará no seu interior”, “Por certo será um navio de piratas”, “naufragará antes de chegar ao seu destino”, “Será um Navio mercante”, “ Será um transcontinental”, “será um grande Cruzeiro”, Ufa! Quantas profecias foram anunciadas naquele dia, quantas palavras foram ditas, quantos pensamentos se perderam nas águas da imaginação. O dia continuava lindo. No pátio do porto havia muita movimentação, o suor fluía do rosto jovem de uma princesa morena, a inauguração daquele Navio era o seu sonho, era algo que havia sido gerado no mais íntimo do seu pequenino ser, aquele era um momento ímpar para ela, era um momento de dor mesclado com uma alegria indizível, as suas emoções mais pareciam as cordas frenéticas de um piano executado por um exímio músico numa noite de concerto clássico em Nova York. Na sua mente a certeza de que aquele era o seu dia, sua história seria ampliada e enriquecida, seu nome seria mudado, ela, receberia um novo nome, havia chegado o tempo da concretização do seu sonho. Os ânimos daqueles que esperavam pela singela solenidade estavam agora alterados; não será hoje, será que há alguma complicação? Que trabalho! Não navegará o Navio? O que está acontecendo, a noite já chegou, irá desatracar pela madrugada? Findou-se aquele dia, um novo dia começa, e agora há muito mais espectadores, e a inauguração? Foi adiada mais não tardará, comentavam os mais idosos. À frente do Porto numa casa de festas, alguém está tocando um saxofone e há dançarinos que se movimentam desenhando passos e compassos no ritmo de seus sentimentos, afogando suas dores e frustrações nas vias da falsa alegria e do repentino contentamento, aquela festa entre outros, se insere no contexto como um detalhe que pronuncia a solenidade tão esperada, a inauguração do Navio. Repentinamente, se ouve um som qual trombeta de anuncio que se diferencia de tudo o que se está ouvindo, é a voz do Navio que se faz ouvir, ora em tom de choro como de um bebê que acabara de abrir a madre e nasce exprimindo vida, ora, como o grito veemente de um guerreiro que se apresenta com entusiasmo e paixão para a batalha. No pátio do porto todos laçam ao ar seus chapéus, se abraçam e se beijam, à alegria brinda coquetéis de lágrimas o relógio marca trinta minutos do novo dia, o Navio foi inaugurado e está pronto para zarpar.

O Navio desatraca, o cordão umbilical foi cortado, estamos agora em plena navegação. Tudo é novo, luzes, cores, formas, sons, toques, sabores, tudo é muito bom, tudo se mistura, as vezes chega a ser confuso, porém, sem perder a essência das surpresas em cada descoberta. Estamos apenas começando a navegação, o destino longe de estar programado ou vinculado a um plano de rotas ou instrumentos direcionais aponta para um amplo horizonte e vai se formatando de acordo com o nível ambiental. Serão as circunstancias, níveis de relacionamento e de comportamento, o clima cultural, as bases do conhecimento, em fim, o estilo das ondas e marés, o nascer e o por do sol em cada dia, semana e ano, que vai revelar a até então, misteriosa trajetória chamada destino. Logo , ao longe, um monte. Parece um porto! É um porto; algo está escrito numa placa com tom escuro: “Porto dos Traumas”, teremos que ancorar neste porto, precisamos de combustível, dizem que o único aqui é a dura experiência, é um combustível necessário, a composição de sua química é variada e concentrada, seus ingredientes são: Falso afeto, ausência de carinho, desprezo, maltrato, abusos, humilhação, abandono, descaso, fome, sede, ódio e violência. Paramos, ancoramos e fomos abastecidos. O navio outra vez está navegando, no seu interior pesa a natureza substancial da dura experiência; uma energia obstinada emana das engrenagens traumáticas de sua estrutura, as altas e desafiadoras ondas da dor se tornam pequenos obstáculos que são vencidos com uma poderosa determinação advinda do timão da vontade e do leme da esperança e o navio navega, porque navegar é preciso.

Uma forte correnteza surge contrariando a direção proposta mudando o curso do Navio, e começa a levá-lo com sórdida força em direção a uma praia populosa; o Navio encalha na encosta, aproximadamente a duzentos metros está a praia, bandeiras e faixas tremulam ao vento, sonhos e fantasias se confundem na areia quente daquela praia adolescente, as bandeiras e as faixas dizem: “Bem vindos a praia da fantasia”! A praia propõe novas descobertas, perspectivas fantásticas; a praia é um universo de transformações e mutações, são tantas as questões, dúvidas, idéias paralelas e tensões; são tantas as ilusões que formam um paralelo obscuro com as fantasiosas emoções, quantas indagações: Para onde iremos agora? Seria essa praia a resposta final? Somos mesmo donos do mundo? Somos donos dos nossos narizes? Alegria! Alegria! O mundo é nosso. Façamos e façamos pois para isto aqui estamos, reinemos com as estrelas pois estrelas somos. Ao cair da tarde um vento rasteiro passeia sobre aquela praia de braços dados com uma maré que cobre toda aquela praia com suas águas salgadas e frias, um silencio absoluto se faz e cala a euforia, sobre as águas os pequenos vestidos de boneca flutuam e há bonecas que flutuam também; os risos, os sublimes desejos, o primeiro beijo, as palavras e a própria poesia, a energia emanante de um coração incendiado pelo primeiro amor, os tremores e temores, o doce miraculoso da tentação, os olhares incandescentes da paixão, todas essas luzes rapidamente, num lapso de tempo, são lançadas em uma das cavernas da montanha da lembrança; um senhor de idade pergunta ao vento: Quando veremos a praia novamente? O vento silencia. O Navio desencalha da encosta e é noite, navegando o Navio vai, naveguemos, pois é preciso navegar.

Ao amanhecer do dia adulto com os raios brilhantes de um sol soberano, as águas se transformam num grande lençol luminoso que se move exuberantemente criando um lindo festival de cores, é um novo dia. Uma voz se projeta no espaço, é a voz do entendimento: Chegamos ao oceano dos sonhos, o Navio determinado navega. Quantas vocações e caminhos, quantos horizontes, quantos faróis, quantas aves que sobrevoam o oceano dos sonhos, quantas nuvens influenciadoras, quanta prata e quanto ouro, quanta riqueza, quanta beleza, e que lindo porto se vê, é o porto dos ideais, o Navio ancora ali; o porto está super-lotado, quantos outros navios grandes e pequenos estão ancorados no Porto dos ideais. É simplesmente extraordinário contemplar os arco-íris que se estendem nos céus deste porto, e os navios ancorados um a um começam a zarpar e esse é um movimento continuo, navios que chegam e navios que vão, ali no porto dos ideais, os navios chegam sem emblemas e saem com suas respectivas bandeiras, e sem bandeira não saem, há muitos que por anos estão ancorados ali, lhes faltou o cumprimento de alguns critérios para a aquisição do emblema, eles não tem bandeira, lhes faltou o sonho, o ideal, outros até tinham um sonho mais lhes faltou o bastão da determinação, a lâmpada da ousadia, a perola da coragem, as garras da intrepidez, o sal do animo, o vinho do entusiasmo, o óleo da disciplina e os sapatos do equilíbrio, estão ali e estarão ali. O dia se aquece e o Navio com a sua bandeira desatraca do porto dos ideais, navegando vai o Navio dia após dia, noite após noite,semanas, meses e anos se passam numa rapidez impercebível, no seu mastro o emblema tremula ao vento frio das dificuldades, as águas sobre as quais navega, são águas geladas, não há ondas, mais o frio da incompreensão não cessa, aves de rapina como a inveja, a ironia, a falsa amizade, a calunia, a solidão, sobrevoam o Navio e as vezes querem fazer seus ninhos no convés, nessas águas geladas navegam os famosos ladrões de sonhos e destruidores de ideais, são piratas frios e calculistas, são assassinos cruéis que agem sorrateiramente na calada da noite. O Navio navega e a sua estrutura já não tem a mesma cor, afinal, são dias, semanas, meses e anos navegando sob o sol do amadurecimento; seu casco surrado pelas águas dos oceanos e pelas dispensassões do tempo já não tem o mesmo brilho, e do seu interior se ouve gemidos silenciosos, mas ele navega firme sem se importar com a ferrugem da critica destruidora, e sem dar ouvidos aos aycibergues dos comentários maldosos ele navega impolutamente. Ele ama navegar.

É noite, o céu se mostra tal qual um quadro primoroso, extraordinariamente perfeito. Uma atração incontrolável emana daquele espetáculo de luzes cintilantes, rara beleza, profundo encanto, e o Navio navega e navega. Subitamente, o Navio encalha numa rocha imersa nas águas, aquela é a rocha do engano, e ela abre uma rotura considerável na alma do navio, pela rotura passam as águas da malicia, e as algas da hipocrisia se enroscam nas engrenagens da maquina na sala de máquinas; o motor do navio começa a fazer um barulho diferente, a fumaça do egoísmo invade todos os compartimentos do Navio, o fogo da soberba se acende no interior do navio, as ondas ilimitadas da infidelidade cobrem o convés, e uma tempestade com fortes ventos de tristeza, angústia e frustração vem com ímpeto sobre o navio danificando ruidosamente a sua estrutura. Um levantamento geral da situação indica que houve uma falha de caráter, os prejuízos foram grandes e danosos. Muitas feridas foram abertas em diversos corações, palavras fluíram como flechas inflamadas pelo fogo da ignorância envenenadas pela prepotência de uma mentalidade carnal. Seria aquilo o profetizado naufrágio? Haveria chegado o fim de tudo? As águas estavam turvas, o céu escureceu, o Navio totalmente dominado pelas circunstancias parecia naufragar pouco a pouco, o Navio estava prezo à rocha do engano. Ao amanhecer do novo dia, gaivotas acrobatas desenham nos céus seus caminhos e mergulham no mar em busca do alimento, o Navio embalado pela maré da pura consciência desencalha, mas danificado está impossibilitado de dá prosseguimento à sua jornada, o dia se vai e chama a noite, ao longe uma forte luz dissipa as trevas e abre um caminho no meio das águas turvas, é a luz de um grande farol em forma de cruz, ele está sobre a montanha com o propósito de orientar os navegantes de todo o universo, todos aqueles que buscam orientar-se pela sua luz não se perdem, no topo de sua torre está escrito: “Eu sou a verdade, e o caminho, e a vida...”, a correnteza da fé move o Navio e o conduz pela a luz do grande farol, e ao chegar ao pé da montanha escrito com letras vermelhas se lê: “calvário, monte de salvação”, ali o Navio atraca e é profundamente transformado de dentro para fora, compartimento por compartimento é restaurado a custo zero. Naquele grande farol em forma de cruz uma nota promissória do alto preço dos custos reparatórios do Navio está cravada e selada com a seguinte palavra: Pago.
Um selo é posto sobre o Navio , e na naquele selo está escrito: obra do Espírito Santo, o selo trata de regeneração, autoridade, poder e unção. A tripulação é substituída e uma nova tripulação assume o comando do Navio. Ele zarpa e reinicia a sua viagem navegando em águas límpidas e azuladas, alguém do convés da o anuncio: “Estamos navegando no oceano da Graça”, uma nova bandeira é arvorada no mastro do Navio, é a bandeira do Príncipe da paz, no grande salão de celebrações se ouve uma linda canção que na sua poesia diz: “pede-me e te darei as nações por herança, e os confins da terra por tua possessão” , O Capitão do Navio da ordens para que seja posta uma inscrição em letras garrafais anunciando o novo nome do Navio, o qual passará a chamar-se: “O Missionário das Nações”. Tendo agora uma estrutura revestida com o aço da graça, e o armamento eficiente da armadura de Deus, uma máquina movida pelo combustível do Poder do Espírito Santo, a segurança inabalável do conhecimento de Deus, a estratégia da obediência, fidelidade e resignação; o fundamento da santidade e da paz; tendo agora o azimute da verdade, a credencial de embaixador do Reino de Jesus Cristo; nunca mais se deterá diante dos obstáculo, nunca mais ficará encalhado, jamais será levado pelas correntes dos oceanos do mundo, por está abrigado à sobra do onipotente mil naufragarão ao seu lado e dez mil à sua direita mais ele não será atingido; navegará pelos mares das nações e conduzira milhares de milhares, de milhares, de milhares ao porto seguro que está em Jerusalém. O Navio.

Autor: Pr.Gilmar Nery Sales
Rio Branco, set/out, de 2008.












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